Têm os judeus uma leitura autêntica da Sagrada Escritura?

Postado em 09-02-2009

Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

O falso ecumenismo hoje reinante e a ideologia maçônica do diálogo inter-religioso que grassa até nas mais obscuras paróquias das regiões mais recônditas geraram uma ilusão entre os católicos sem formação doutrinária: os judeus de hoje, apesar de não aceitarem Nosso Senhor Jesus Cristo como Messias, são “irmãos mais velhos dos cristãos” e têm uma leitura autêntica da Bíblia.

Ora, nada mais falso do que esta idéia, infelizmente promovida e divulgada até por quem tem o dever de ensinar a verdade.

Oferecemos abaixo algumas provas tiradas da Sagrada Escritura e da Tradição, a fim de esclarecer assunto tão importante. Não nos move nenhum preconceito ou ódio racial mas a caridade e o amor à verdade, tão persuadidos estamos de que o povo judeu tem o direito de conhecer a doutrina sagrada e, assim, ser acolhido na Nova e Eterna Aliança, fundada no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Provas da Sagrada Escritura:

Ainda agora, quando lêem o Antigo Testamento, esse mesmo véu permanece abaixado, porque é só em Cristo que ele deve ser levantado. Por isso, até ao dia de hoje, quando lêem Moisés, um véu cobre-lhes o coração. Esse véu só será tirado quando se converterem ao Senhor. ( II Cor. 3, 14-16 )

Tivestes de sofrer da parte dos vossos compatriotas o mesmo que eles sofreram dos judeus, aqueles judeus que mataram o Senhor Jesus, que nos perseguiram, que não são do agrado de Deus, que são inimigos de todos os homens, visto que nos proíbem pregar aos gentios para que se salvem. E com isto vão enchendo sempre mais a medida dos seus pecados. Mas a ira de Deus acabou por atingi-los. ( I Tess. 2, 14-16)

Eu conheço a tua angústia e a tua pobreza – ainda que sejas rico – e também as difamações daqueles que se dizem judeus e não o são; são apenas uma sinagoga de Satanás. (Ap, 2, 9)

Nós não somos filhos da fornicação; temos um só pai: Deus. Jesus replicou: “Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis, porque eu saí de Deus. É dele que eu provenho, porque não vim de mim mesmo, mas foi ele que me enviou. Por que não compreendeis a minha? É porque não podeis ouvir a minha palavra. Vós tendes como pai o demônio. (Jo. 8, 41-44)

Provas da Tradição:

A razão dos judeus ficou enfraquecida, de modo que não podem ver a claridade da divina luz, isto é, da divina verdade sem o velame  das figuras. E isto porque fecham os olhos para não verem, porque o véu do templo se rompeu. E isto por culpa da infidelidade deles, não por defeito da verdade, a qual, removido o véu, se manifesta de modo claríssimo a todos quantos abrem pela fé os olhos  da alma. (…)

Deve-se saber que se apõe um véu a uma coisa de duplo modo: ou  se apõe à coisa a fim de que não seja vista ou se apõe à pessoa para que não veja. Ora, aos judeus do Antigo Testamento se apunha um véu de duplo modo. Pois seus corações estavam empedernidos de maneira que não conheciam a verdade por causa da dureza deles, e o Antigo Testamento não estava encerrado, porquanto a verdade não havia ainda chegado. Por isso, como sinal da verdade, o véu estava na face de Moisés e não na face dos judeus, mas, chegando Cristo, o véu foi removido da face de Moisés, isto é, do Antigo Testamento, que já estava completo, mas não foi removido do coração deles. E isto até os dias de hoje. (S. TH. AQ. – Super Epistolas S. Pauli – I, Turim, 1953).

Quando tomou o Menino e sua Mãe, para fugir ao Egito, o fez à noite e nas trevas, porque deixou a noite da ignorância aos incrédulos dos quais se afastava. Mas quando voltou para a Judéia, o Evangelho não fala de noite nem de trevas, porque no fim do mundo os judeus, acolhendo a fé, como se fosse Cristo a voltar do Egito, serão iluminados. (Homilia sancti Hieronymi presbiteri, in III Nocturno, Ss. Innocentium Martyrum)

Com efeito, todos os elementos atestaram a vinda do Criador. Falarei deles de modo humano: os céus conheceram que ele era Deus, pois que mandaram uma estrela. O mar conheceu-o, pois que ele caminhou sobre as ondas. A terra o conheceu tremendo quando morreu. O sol o conheceu ocultando seus raios de luz. As pedras e muralhas o conheceram porque na hora de sua morte racharam. O inferno o conheceu, pois devolveu aqueles que tinha presos pela morte. E, não obstante tudo isso, os corações dos pérfidos judeus ainda não conhecem aquele a quem até as coisas inanimadas conheceram, e são mais duros que as pedras, não querem abrandar seus corações para o arrependimento. (Homilia santi Gregorii Papae, in Epiphania Domini)

Finalmente, vale a pena acrescentar duas observações. É falso dizer que os judeus (hoje) e os muçulmanos têm a mesma de Abraão. Quando se fala da fé de Abraão, fala-se de sua fé em Cristo Deus (que foi visto por Abraão, pois Cristo o recorda: Abraão me viu e ficou cheio de gozo). A propósito, Santo Tomás de Aquino, recolhendo os argumentos de Santo Efrem,  Santo Ambrósio e Santo Agostinho, afirma que Abraão e todos os profetas hebreus como ele, creram em Cristo. (Cf.  Enrico Radaelli, Il mistero della sinagoga bendata, Milano, 2002)

A segunda observação consiste em recordar que Pio XI, confirmando o procedimento de todos os papas da história, impõe, na encíclica Mortalium ânimos, pena de excomunhão a todos os católicos que promovem  confusão, irenismo e sincretismo entre as confissões religiosas.