Tolerância ou Omissão?

Postado em 28-04-2008

Tolerância, do latim tolerantia: atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente da adoptada por si mesmo; acto de não exigir ou interditar, mesmo podendo fazê-lo; permissão; paciência; condescendência; indulgência.

Desde que o mundo é mundo, pais (mesmo os modernos!) indignados com atitudes incompatíveis de seus filhos com o seu modo de pensar e agir, vez por outra assumem a postura de mestres e legisladores, justificando sua posição na hierarquia biológica, financeira e psíquica! Nada mais justo!

Mas há os que expulsam suas filhas de casa ou lhe vomitem todo um puritanismo hipócrita e situacionista, quando a mesma se apresenta grávida do “Bruninho” ou do “Alfredo” – um daqueles namoradinhos que o papai permitiu que dormisse em sua casa, sob os seus “olhos de lince”, a fim de evitar que sua princesinha pusesse em prática sua volúpia num motel de beira de estrada.

O erro com o qual fora condescendente, indulgente, tolerante… agora lhe tira o sono e os “cobres”! – Nessas horas se enxerga quão vasto é o ônus da tolerância!

Tudo é permitido em nome dos Direitos Humanos! No mundo moderno, nada passa desapercebido aos “compreensivos” olhos da Liberdade que, mais do que ninguém, “compreendem o ser humano, suas vontades, seus sonhos…!” Como cupins numa sala, ignorados até que os móveis caiam aos pedaços, assim é a liberdade, a permissividade, a tolerância: corroem o interior dos homens, sua moral, sua ética, sua fé, até que seu exterior rebaixe-se ao nível mais pífio. Milhões são hoje os que insistem, “em nome do amor”, “do querer bem”, deixar que os que lhe são caros cheguem a este nível, sem o menor escrúpulo de consciência, alegando “amá-los como são!”

Cabe a pergunta: que amor é este que se compraz com a decadência de outrem, ou silencia-se frente a sua ruína? Que conforma-se com a indigência dos bens eternos, dos valores cristãos, em nome do que é prazeroso, embora fugaz? Que amor é este situacionista, tendencioso, consumista, néscio? Que vilipendia a alma humana, fartando-se da carne tal qual um verme? A resposta é o “amor liberal” – que tudo admite; “o amor igualitário” – que a todos aceita; “o fraterno” – que a todos congrega sobre a bandeira da Tolerância!

Com certeza, o maior triunfo da modernidade foi ter conseguido que se atribuíssem a Cristo esse falso amor que se conforma com a ruína – ecumêmico, respeitoso, amigo do erro e pacífico – e essa noção exclusivamente filantrópica da Caridade, contrária às palavras do próprio Mestre a Judas: Pobres sempre tereis convosco; mas a mim nem sempre me tereis (Jo. 12, 8).

Confundimos tolerância com respeito, a ponto de conformarmo-nos com a ignorância alheia por vão comodismo ou preguiça de ensinar a verdade, ou por subestimarmos a inteligência do ouvinte. Isso é egoísmo, falta de caridade, preconceito, orgulho… menos respeito!

Confundimos tolerância com amizade, a ponto de convivermos amistosamente com o erro durante toda a vida, como mera fuga das divergências ou da solidão, ou por superestimarmos o poder do opositor. Isso é medo, covardia, amor próprio… menos amizade!

Confundimos tolerância com paz, a ponto de permitirmos sermos vítimas da guerra que nos impõem e das privações a que nos sujeitam esses anarquistas depravados e lunáticos da “Cidade do Homem”, movidos por um tolo apêgo à tranquilidade, aos bens presentes, aos “frutos do trabalho do Homem”. Isso é omissão, indiferença, cegueira… menos paz, pois, como diz um amigo: “Um câncer não deixa de sorver a vida de um paciente que ignora sua existência”.

“Eu vos deixo a paz, dou-vos a minha paz; não vô-la dou como a dá o mundo” (Jo. XIV, 27) – Nessas palavras o Mestre mostrou-nos que há de se fazer distinção entre a Sua paz e a do mundo.

Noutra ocasião afirmou-nos: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz, mas a espada” (Mt. X, 34).

Dizer que Cristo simplesmente quer a paz, minimiza Seu ensinamento, reduzindo-o à simples ausência de guerra, a qual pode ser facilmente conquistada pela coação ou pelo silêncio.

A paz de Cristo é “a tranquilidade na ordem”, como tão bem definira Santo Agostinho.

Nessa Nova (des)Ordem Mundial, onde rara é a tranquilidade, ousa-se muitas vezes imaginar que a paz fora conquistada. Deseja-se com veemência seu reinado mas, quase sempre, o que se almeja é a maldita paz dos preguiçosos e dos covardes! A paz dos mausoléus! A paz da morte e não da vida!

Nosso Senhor provou do desrespeito dos intolerantes para com a Verdade…

Do egoísmo de quem O traíra…

Da solidão do abandono…

Do preconceito e orgulho dos doutos homens.

Não obstante, em momento algum privou-se de beber deste amargo cálice, a fim de que se cumprisse o que o Pai havia dito pela boca dos profetas. Tampouco recuou ao compromisso de ensinar, ao combate ao erro, ao soerguimento da Verdade acima das controvérsias mundanas – de quem ficaria com sua túnica – e ao nível do sincero repúdio ao pecado – como o fez Dimas, o bom ladrão.

Não tolerou o mal! Mas de tal modo o odiou, infligindo à própria carne imaculada – e ao mesmo tempo disforme e irreconhecível – as penas pela nossa rebeldia, desenformando-nos do molde de presunção em que fomos confinados pela desobediência e a falsa noção de Liberdade e Igualdade.

Não omitiu-se ao cuidado das ovelhas! Mas as confiou ao mais perfeito modelo de humildade e servidão que, aos pés da Cruz, silenciosamente aceitava aos Seus desígnios!

E como nos portamos nós?

“Deitados em berço esplêndido”: É assim que nos posiciona o mundo! Sorridentes defronte uma TV. Apáticos ao sofrimento de Cristo, mas atentos e participativos às intrigas de um “Big Brother Brasil”! Vamos acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo, no intuito de sermos bem recebidos aonde quer que cheguemos um dia, ignorando a luta para a qual fomos aqui colocados.

Alegremo-nos com a entrada triunfal de um “Domingo de Ramos”. Mas jamais nos esqueçamos de que a vitória da “Páscoa” cobra seu preço numa “Sexta-feira da Paixão”.

Uma Santa Páscoa a todos!

In Jesu et Mariae

Frederico de Souza Aleixo