Washington, Oslo, Roma, Pequim

Postado em 26-07-2011

(inquietações pelo mundo afora)

Pe. João Batista Costa

Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. Se o Senhor não guardar a cidade, inutilmente se desvela a sentinela. Sl. 126.

O noticiário sempre causou espanto. Até mesmo os jornais mais sóbrios sempre tiraram a paz, tal o gosto que os domina de, por meio do artifício da exageração, impressionar a imaginação dos leitores e atrair-lhes o interesse.

No entanto, é preciso reconhecer que ultimamente os acontecimentos são mais alarmantes e merecem uma ponderação especial.

Sem dizer que seja o fim do mundo, que significado terá a crise econômica dos EUA que empurra a maior potência à beira do calote? Quais suas causas e conseqüências? E não são apenas os EUA que estão na lona, a União Européia também está ameaçada pela fragilidade do euro diante da enorme dívida pública de vários países do Velho Continente. Há quem diga que não se trata de mera crise econômica mas de uma crise das instituições políticas da democracia moderna. Seria um sinal de que a democracia e  o chamado estado de bem estar social se esgotaram.

Igualmente o crime ocorrido em Oslo há poucos dias  dá o que pensar. Dizer simplesmente que se trata da obra de um louco sem mais é um truísmo  cretino. Lendo os textos do atirador norueguês, vê-se que é uma pessoa com suas faculdades mentais perturbadas porque vê o seu mundo vilipendiado, os seus valores agredidos, sua identidade cultural demolida pela irresponsabilidade das autoridades políticas. Vê-se que o desespero o dominou diante da “traição dos clérigos”, da traição de todos os que tinham o dever de sustentar as coisas em seu devido lugar e preservar a ordem. A revolução cultural o levou à insanidade mental. Talvez escandalize ao eventual leitor destas linhas dizendo: a meu ver, é mais uma vítima do que um criminoso.

Não bastassem esses problemas, vislumbra-se em um horizonte tenebroso e bem próximo dos nossos olhos uma perigosa disputa da China pela ocupação dos mares do sul. Tudo indica que o tigre vai avançar sobre seus vizinhos e outras pequenas ilhas da região e não se sabe o que resultará. Por outro lado, cabe perguntar se o grande interesse de Pequim em atrelar a Igreja Patriótica Chinesa aos interesses do partido não será, como fazia a Rússia comunista, ter um recurso para intimidar Roma na hipótese não muito remota de um conflito com os EUA.

Mais ainda. Em setembro deverá ocorrer o reconhecimento do Estado Palestino pela ONU. Parece-me uma coisa muito justa que aqueles pobres infelizes, que vivem a humilhação de ver  diariamente ali, bem pertinho, Israel esbanjando luxo, riqueza, arrogância sob unção política dos EUA e da Europa, venham a ter sua nação reconhecida como um Estado. Mas isso, certamente, não se dará sem muita dor e lágrima. E não nos esqueçamos de que o Irã está cada vez mais perto da produção de armamentos nucleares.

Não sendo economista nem analista político, mas um simples curioso observador desse mundo infernal que é a barbárie da modernidade, limito-me a juntar a minha pobre voz à de tantos outros inconformados com a insensibilidade, irresponsabilidade das nossas autoridades que não querem ver a natureza mais profunda da nossa crise: uma crise moral, uma crise religiosa. Uma crise que resulta da pretensão de organizar o mundo sem valores, ou sem o valor radical que é a verdade. Uma crise que não será sanada enquanto se tentar conciliar as coisas mais disparatadas: entre o delirar da ciência humana e a fé divina, entre a incerteza frívola do mundo e a majestosa constância da Igreja, como dizia São Pio X em admirável encíclica sobre Santo Anselmo.

Sinceramente, não sei quem está mais louco: se o alienado assassino de Oslo ou se os burocratas da União Européia ou se os repugnantes e degenerados jovens tatuados e mutilados de piercing que transitam dopados pelas ruas das capitais européias sem perceber que a civilização construída com tanto sacrifício e heroísmo por seus maiores desmorona. E o pior ainda é que a esse  mundo moderno, a esse doente que desfalece no deserto dos princípios perenes, a esse débil mental que não sabe mais de onde veio e para onde vai e morre por inanição da verdade plena, se queira em outubro próximo  aplicar em outubro próximo aplicar uma dose maciça de veneno com a realização da assembléia multiculturalista de Assis III sob a batuta do santo padre.

Não pretendo ser profeta nem filho de profeta. Tampouco amaldiçôo a ninguém. Pois nem sequer São Miguel Arcanjo amaldiçoou Satanás, mas cingiu-se a dizer-lhe que Deus o reprimisse. Todavia, digo que desta vez o príncipe do Gattopardo erraria se dissesse que algo há de mudar para que tudo continue como está.

Anápolis, 26 de julho de 2011.

Festa de Sant’Ana