Art. 2 – Se o inocente está obrigado mais que o penitente, a render graças a Deus.

O segundo discute–se assim. – Parece que o inocente está obrigado, mais que o penitente, a render graças a Deus.

1. – Pois, quanto maior for o dom que recebemos de Deus, tanto maiores ações de graça estamos obrigados a render–lhe. Ora, o dom da inocência é maior que o da justiça reparada. Logo, parece que o inocente está obrigado, mais que o penitente, a render ação de graças.

2. Demais. – Assim como devemos ação de graças ao, nosso benfeitor, também lhe devemos amor. Ora, diz Agostinho: Que homem, meditando na sua fraqueza, ousaria atribuir a suas próprias forças, sua castidade e sua inocência, para te amar menos; como se não tivesse necessidade da tua misericórdia; que perdoa ao pecador convertido? E logo depois: E assim, que te ame tanto, que te ame mais, reconhecendo que quem nos livra das tão grandes fraquezas do nosso pecado é o mesmo que nos preservou dele. Logo, também está o inocente obrigado, – mais que o pecador, a dar ação de graças.

3. Demais. – Quanto mais continuado for o beneficio gratuito, tanto maior ação de graças exige. Ora, no inocente o benefício da graça divina é mais continuado do que no penitente. Pois, diz Agostinho no mesmo lugar: À tua graça devo todo o mal que não fiz. De que não era eu capaz, amante do pecado em si mesmo? Sei, porém que tudo me foi perdoado, tanto o mal que espontaneamente fiz como o que, graças a ti, não pratiquei. Logo, o inocente está obrigado, mas que o pecador, a render ação de graças.

Mas, em contrário, o Evangelho: A quem mais se perdoa mais ama. Logo, pela mesma razão, está obrigado a maiores ações de graça·

SOLUÇÃO. – A ação de graças de quem as recebe é correlata às graças recebidas. Portanto, maiores graças exigem maiores agradecimentos da parte de quem as recebe. E como a graça é assim chamada por ser dada gratuitamente, de dois modos pode ser maior a graça por parte de quem a dá. – De um modo, pela sua quantidade, E então, o inocente está obrigado a maiores ações de graça; porque, todas as circunstâncias iguais e absolutamente falando, Deus lhe fez um dom maior e mais continuado. – De outro modo, pode uma graça ser chamada maior por ser mais o que é dado gratuitamente. E assim sendo, está o penitente obrigado, mais que o inocente, a render maiores ações de graças, porque mais gratuitamente lhe dá Deus as suas graças. Pois, dá–lhe graças, quando era digno de pena. Por onde, embora o dom feito ao inocente seja, absolutamente falando, maior, contudo, o que é dado ao penitente é maior em comparação com ele; assim como também um pequeno dom feito a um pobre é maior do que um grande feito a um rico. E como os nosso atos tem por objeto o particular, quando se trata de estabelecer uma regra de conduta é preciso considerar as coisas antes relativa do que absolutamente, como o Filósofo diz a respeito do voluntário e do involuntário,

Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.