Arquivo de outubro de 2016

Dois bispos

Postado por Admin.Capela em 29/out/2016 - Sem Comentários

Gustavo Corção

O Globo, 3 de abril de 1976

 

Depois dos comentários feitos à desoladora atitude de quase todos os bispos em face da expansão comunista que mais se explica por nossa fraqueza e covardia do que pela força e engenho deles, seria injusto não mencionar os nomes de dois bispos que provocaram a admiração dos que ainda esperam, e a cólera dos traidores.

O primeiro é o de D. Francisco da Silva, Arcebispo de Braga, e portanto, Primaz de Portugal. Está na lembrança de todos, o comício realizado em Braga no ano passado em frente do Palácio Episcopal, onde milhares de portugueses dispostos à resistência buscaram nas palavras do bom Pastor apoio e encorajamento para a luta. Dom Francisco da Silva não se esquivou nem aconselhou a covardia em nome do princípio de não-violência inventado pelos que procuram eufemismos, neologismos, palavras adulteradas para esconder a covardia, ou para esconder o mal que faz com coisas santas. Como Mons. Affre, Arcebispo de Paris, que em 1848 deu sua vida por suas ovelhas, Dom Francisco é hoje um dos cinco ou seis bispos vivos que ainda sabe o que quer dizer o termo “pastoral”, cuja adulteração foi talvez o maio escândalo do “Concílio” que não houve.

Lembro aqui uma palavra muito conhecida de Aristóteles sobre a impossibilidade de pensar sem fazer metafísica: para desfazer a metafísica é preciso fazer metafísica. Cito de memória, confiante apenas no núcleo da ideia. Assim também, para montar um Concílio não doutrinário é preciso começar por admitir uma doutrinação capaz de substituir a que se deseja evitar. No caso começaram por dar ao termo pastoral, muito bem definido no Evangelho do Bom Pastor (Jo 10,1-16), um sentido quase exatamente oposto: o zelo pela custódia da doutrina, escrita com o Preciosíssimo Sangue de Nosso Salvador, foi substituído pela tolerância, pelo relaxamento, e pelas demais pervesidades insistentemente definidas e condenadas pela Santa Igreja – indiferentismo, latitudinarismo, liberalismo, irenismo – agora erigidas em sistema ou louvadas como virtudes.

Ora, se “pastoral” quer dizer o que Jesus ensinou e Mons. Affre praticou, torno a dizer que todos os concílios católicos havidos nos vinte séculos de Igreja Militante, foram pastorais, com exceção do Concílio Vaticano II, que não foi um concílio católico por pretender ter sido o círculo quadrado de um concílio apenas pastoral.

O Arcebispo Primaz de Portugal não discursou sobre os termos usados e adulterados pelo Concílio, mas sua simples atitude de bom Pastor, ereto, ensinante, exemplar, foi um desmentido vivo e heroico da alvitante adulteração do termo que designa seu dever maior diante de Deus e dos homens. Transcrevo abaixo, traduzindo do francês, palavras que com imenso gosto leria em português, uma passagem do pronunciamento de Dom Francisco, publicado pela revista L’Ordre Français: “Nós rejeitamos uma sociedade que falsifica a verdade, favorece a mentira, entretém a calúnia e a difamação. O comunismo é inimigo de nossa religião. Não podemos crer em seus chefes quando eles declaram respeitar as convicções religiosas quando tudo em seus atos (e em sua história) demonstram o contrário”.

A reação do inimigo bem mostra a indignação furiosa com que receberam as palavras do Arcebispo de Braga. O mesmo número de L’Ordre Français nos dá um artigo de La Croix, 13 de agosto de 1975: “Nós subscrevemos este apelo (formulado pelo jornal comunista L’Humanitá contra o discurso de D. Francisco) porque não podemos aceitar o ódio e a violência. As palavras de Dom Francisco da Silva soam como uma incitação à guerra civil. Como pode um bispo chegar a pronunciar um tal discurso?”

Interrompo a transcrição para dar certa razão ao escriba de La Croix que se espanta de ainda encontrar um Bispo católico capaz de um “tal discurso”, ou melhor, um Bispo católico capaz de aconselhar a luta contra os comunistas. O títere das esquerdas, pelo que ouve e lê, imaginava já não haver no mundo um só prelado capaz de arriscar a perda da casa, da comida, da roupa lavada, e até da doce vida, para proteger seu rebanho, e para dar o testemunho de Cristo.

Continuamos a transcrição do artigo de La Croix: “Onde se deterá a violência assim desencadeada? Como cristão, e como homem que pondera a consequência de seus atos, não posso esconder minha reprovação dessas palavras que levam ao ódio e semeiam a morte”.

E eu, como católico e como homem inteiro não posso esconder minha náusea pelas palavras desse emasculado.

O segundo bispo que para nosso conforto, quebra a monotonia da universal mediocridade me surgiu sob as espécies de um livro publicado na sua terceira edição, atualizada e aumentada. Trata-se do livro Un Evêque Parle (Um bispo fala) de Dom Marcel Lefebvre que, por desígnios de Deus e não por seu gosto próprio, numa berlinda de espantosa eminência, está oferecido em espetáculo ao mundo. Neste livro de capital importância Dom Lefebvre, entre outros gravíssimos problemas, aborda o da singular tenacidade com que a maioria dos padres conciliares se recusava não apenas a atender às exigências da Dountria Sagrada como até as definições das palavras – tudo isto sob a cobertura do termo “pastoral”; e também aborda o escândalo que clama aos céus da recapitulação diante do comunismo. Mas deixemos o próprio Bispo falar de tais escândalos:

“… insistirei no fato de, em regra geral, não terem os padres conciliares querido atender aos pedidos de definições em termos exatos das coisas discutidas, e é esta recusa de definições, esta recusa de examinar filosoficamente e teologicamente os assuntos abordados, obstinação que nos deixava limitados a puras descrições das coisas discutidas…”.

É esta sombria recusa de um comportamento católico que hoje obriga Dom Lefebvre a recusar as conclusões de tal assembleia.

O próprio bispo, entretanto, reconhece que algumas vezes vinha dos próprios padres conciliares o fervor de definir, para falsear as definições já feitas e usadas secularmente pela Igreja. Na página 155, Dom Lefebvre dá abundantes exemplos de fraudes praticadas contra a integridade da Doutrina Católica e contra a identidade da Igreja. Assim, falsearam a definição do casamento, colegialidade e até de Igreja. Em resumo, Dom Lefebvre denuncia a recusa de definições, a falsificação e a difusão de defeituosas e ambíguas definições.

Quanto ao comportamento dos 2.350 padres conciliares que se recusaram a atender ao pedido de uma reafirmação condenatória do comuniscmo já assinalada por 450 bispos, Dom Lefebvre, nas últimas páginas deste livro católico, acentua a gravidade da posição espiritual, teológica (e não simplesmente política) assim tomada pela maioria dos padres conciliares em relação ao comunismo.

Como em outro artigo já assinalamos, este fato basta para marcar a ruptura, a descontinuidade que se estabelece entre a Igreja de Cristo e a nova instituição que se apresenta como derivada de tal ruptura.

Ladainha de Nossa Senhora das Vitórias

Postado por Admin.Capela em 17/out/2016 - Sem Comentários

Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, ouvi-nos.

Cristo, atendei-nos.

Deus Pai do Céu, tende piedade de nós.

Deus Filho Redentor do mundo, tende piedade de nós.

Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.

Santíssima Trindade que sois um só Deus, tende piedade de nós.

Filha Vitoriosa do Pai, rogai por nós.

Mãe Vitoriosa do Filho,

Esposa Vitoriosa do Espírito Santo,

Serva Vitoriosa da Santíssima Trindade,

Vitoriosa na vossa Imaculada Conceição,

Vitoriosa ao esmagar a cabeça da serpente.

Vitoriosa sobre todos os filhos de Adão,

Vitoriosa sobre todos nossos inimigos,

Vitoriosa em vosso sim, em resposta ao Anjo Gabriel,

Vitoriosa em vosso casamento com São José,

Vitoriosa em vossa visitação,

Vitoriosa no nascimento de Jesus Cristo,

Vitoriosa em vossa fuga para o Egito,

Vitoriosa em vosso exílio,

Vitoriosa em vossa casa de Nazaré,

Vitoriosa na apresentação do Menino Jesus no templo,

Vitoriosa na missa de vosso Filho,

Vitoriosa na paixão e morte de Jesus,

Vitoriosa na ressurreição e ascensão de Jesus,

Vitoriosa na vinda do Espírito Santo,

Vitoriosa em vossos sofrimentos e alegrias,

Vitoriosa na perseverança dos Evangelistas,

Vitoriosa nos anjos que permaneceram fiéis,

Vitoriosa na felicidade dos Santos,

Vitoriosa nas mensagens dos Profetas,

Vitoriosa nos testemunhos dos Patriarcas,

Vitoriosa no zelo dos Apóstolos,

Vitoriosa no testemunho dos Evangelistas,

Vitoriosa na sabedoria dos Doutores,

Vitoriosa nos feitos dos Confessores,

Vitoriosa nos feitos de todas as virgens consagradas,

Vitoriosa na fidelidade dos mártires,

Vitoriosa por vossa poderosa intercessão,

Vitoriosa por todos os vossos títulos,

Vitoriosa no momento da vossa morte, rogai por nós.

 

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do Brasil, ouvi-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.

Padre: Rogai por nós, Santa Mãe das Vitórias.

Fiéis: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

 

Oremos.

Senhora das Vitórias, temos confiança em vossa poderosa intercessão junto a Jesus Cristo vosso Filho e nosso Senhor. Assim sendo, rogamo-vos que abençoeis esta capela a vós consagrada, nossas famílias, amigos, parentes e benfeitores, a fim de que todas nossas obras, alegrias e sofrimentos, sejam agradáveis à Trindade Santíssima e possamos merecer a vitória da salvação eterna. Por Cristo Senhor Nosso. Amém.

Fotos Capela 2016

Postado por Admin.Capela em 11/out/2016 - Sem Comentários

Bergoglio e Lutero

Postado por Admin.Capela em 07/out/2016 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Dentro de poucos dias o papa Bergoglio irá à Suécia participar das comemorações do quinto centenário da revolução luterana.

O gesto do pontífice, embora não nos surpreenda, não deixa de desconcertar-nos. Não nos surpreende porque seu predecessor João Paulo II agia nessa direção, tendo mandado depositar flores na campa do heresiarca, e os teólogos da Nouvelle Theologie, condenados por Pio XII e reabilitados após o Vaticano II, não escondiam sua admiração pelo falso reformador, monge crapuloso, comilão e beberrão, inventor da máquina de genocídio do mundo moderno. Não nos surpreende porque na nova religião há quem chegue a manifestar, senão simpatia, ao menos compreensão por Judas Iscariotes, dizendo que ninguém pode julgá-lo, num esforço vão de inocentar o filho da perdição.

Entretanto, o gesto de Bergoglio nos desconcerta porque de um papa, principalmente em se tratando de um filho de Santo Inácio de Loyola, queríamos poder esperar que seguisse o exemplo de seus irmãos maiores São Roberto Belarmino, São Pedro Canísio e tantos outros gloriosos santos jesuítas.

Com efeito, no quinto centenário da falsa reforma luterana, os católicos tínhamos o direito de esperar que o papa renovasse as condenações de Leão X e do Concílio de Trento contra os erros dos pseudo-reformadores e exortasse os hereges de hoje, herdeiros dos erros do século XVI, a abjurar suas doutrinas heréticas e a voltar para o seio da única Igreja de Cristo.

Tínhamos igualmente o direito de ver a Igreja pronunciando um juízo sobre as  consequências históricas das heresias do século XVI, como o faziam os bons manuais de apologia de antes do Vaticano II (por exemplo, o excelente manual de mons. Cauly). De fato, se cumpre pronunciar-se sobre a terrível efeméride, não se esqueçam as vítimas dos monstruosos hereges. Foram tantos os mártires católicos, foram tantos, também, os pobres camponeses alemães enganados por Lutero e depois esmagados brutalmente numa carnificina horrenda por ordem do mesmo heresiarca.

Realmente, parece que hoje se dá no plano religioso-ecumênico a mesma demagogia que se observa no noticiário policial: não faltam palavras de compaixão pelo bandido e nenhuma palavra de solidariedade pela família da vítima. Sobram palavras de compreensão para os desmandos, blasfêmias e imoralidades de Martinho Lutero e não se diz uma palavra em defesa da Roma dos papas, que Lutero chamava Sinagoga de Satanás e Trono do Anticristo.

No balanço histórico dessa negra efeméride poderia ocupar um lugar de destaque a rainha Maria Stuart da Escócia, outra vítima dos hereges fanáticos do século XVI. A vida dessa rainha infeliz, além de ilustrar perfeitamente a diferença entre a mentalidade católica e a mentalidade protestante, lança uma luz admirável sobre a verdadeira misericórdia divina, tal como a entendeu sempre a Igreja. Lança também uma luz sobre o que seja o verdadeiro ecumenismo. Como se sabe, Maria Stuart, depois de ter cometido vários erros graves em sua vida, caiu em desgraça nas mãos da sua prima degenerada rainha “virgem” e histérica Isabel da Inglaterra. Acusada de uma falsa conspiração forjada pelos protestantes, foi obrigada a comparecer diante de um simulacro de tribunal e condenada à morte por uma sentença iníqua de sua prima herege. Proibida de receber os últimos sacramentos de um sacerdote católico, recusou-se a receber qualquer assistência de um ministro herético e morreu santamente como uma princesa católica.

O filho de Maria Stuart,  rei Jaime I da Inglaterra (Jaime VI da Escócia), um demente que participou de toda maquinação do regicídio da própria mãe, poderia ser considerado patrono do ecumenismo dos nossos dias. Com efeito, o celerado monarca, que tinha pretensão de ser teólogo, mandou sepultar o corpo de sua mãe católica na cripta dos reis da Inglaterra na abadia de Westminster e esculpir uma estátua dela ao lado da estátua da megera Isabel I (Quando na verdade Maria Stuart tinha disposto em seu testamento que queria ser sepultada na França católica, da qual fora rainha, junto ao jazigo de sua mãe Maria de Guise).

De fato, o gesto de Jaime I, pondo lado a lado as estátuas da perversa protestante Isabel e da infortunada rainha Maria Stuart, parece reproduzido hoje no século XXI quando a orgia de um falso ecumenismo emascula o sacerdócio, corrompe a doutrina sagrada e provoca a ira divina.

Anápolis, 7 de outubro de 2016.

Festa de Nossa Senhora do Rosário