O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo
"Stabant juxta crucem Jesu mater ejus"... Estavam de pé junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo amado, disse à sua mãe: "Ecce filius tuus" - Mulher, eis teu filho. Depois disse ao discípulo: "Ecce mater tua" - Eis tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como o que lhe era próprio.
Participação na Cruz do Redentor
Esse é o Evangelho lido na maioria das Missas em honra a Nossa Senhora, o Evangelho da Paixão. O Catecismo de Baltimore nos ensina que o Escapulário Marrom, ou Escapulário do Monte Carmelo, é usado em honra da Paixão de Nosso Senhor.
Como, exatamente, seria ele um sinal de que sou filho da Virgem Maria e honro a Paixão de Nosso Senhor?
Todos sabemos que a Virgem Santíssima nunca toma nada para si, mas tudo entrega para o Filho de Deus e seu Filho. Assim como Cristo nos entregou à sua Mãe no calvário, ela nos entrega a Ele de volta. Quem crê que a Palavra de Deus tem poder, recebe Maria em seu coração, como São João aos pés da Cruz, porque vê que Cristo poderia ter dito "João", mas disse “discípulo", para que todo aquele que crê nas palavras do Divino Salvador participe de sua Cruz.
É assim que sabemos quem é um discípulo amado, quem é um verdadeiro cristão: aquele que leva a Mãe de Jesus em seu coração.
Mas como temos certeza disso?
Consideremos brevemente o modo como conhecemos as coisas.
O hábito
Aristóteles elenca dez categorias que nos aproximam do conhecimento do ser, isto é, de como Deus fez as coisas. A primeira das dez categorias tem a ver com a essência da coisa, sua natureza, sua substância — e é esse o nome dado: Substância (Οὐσία). Por exemplo, homens são animais racionais.
As outras nove são chamadas de acidentes: Quantidade (Ποσὀν), Qualidade (Ποιὀν), Relação (Πρὀς τι), Lugar (Ποῦ), Tempo (Πὀτε), Situação (Κεῖσθαι), Ação (Ποιεῖν), Paixão (Πάσχειν). São coisas como cor, quantidade, forma, tamanho, dimensões, relações... até a última que é Hábito (ἓχειν).
Por hábito ele não quer dizer ações repetidas, como bons hábitos e maus hábitos; estas são qualidades da alma. Ele se refere a nossas roupas, coisas que vestimos, sapatos, chapéus, anéis, brincos, véus, saias... A palavra ἓχειν vem do verbo ἔχω: possuir. Por isso em latim se diz "habeo", de onde temos o substantivo "habitus".
O que vestimos ajuda a definir quem somos. Nossa roupa sempre diz algo sobre nós mesmos. Quando vemos alguém de batina, sabemos que é um clérigo, à distância, sem esforço.
Podemos perceber isso na lavratura de um boletim de ocorrência, por exemplo. O policial pergunta: como era o ladrão? E a vítima responde: ele usava tal e tal roupa...
São João Cassiano nos ensina que o rei Acabe em III Reis XVIII, antes daquela famosa disputa com os profetas de baal, perguntou ao mensageiro como o profeta era e como estava vestido. Quando o mensageiro disse que estava vestido de pele de camelo e cinto de couro, o rei imediatamente reconheceu que era Elias.
A ordem carmelita
A Ordem do Carmelo começou com o profeta Elias. Esse homem de Deus vivia como eremita no monte chamado Carmelo, que significa Jardim do Senhor. Sabemos que Nossa Senhora é o jardim fechado de que fala o Cântico dos Cânticos; sua alma é um lugar onde Deus gosta de passear e estar com os homens.
Foi no monte Carmelo que Elias disputou com os 400 profetas de baal e fez descer fogo do céu para consumir seu holocausto. Outras duas vezes fez descer fogo do céu para consumir os 50 soldados do rei Acazias, que foram enviados para prender o profeta.
Nove séculos antes da vinda de Cristo, Elias e seus seguidores se prepararam misticamente para a vinda de Cristo, dedicando-se à devoção à sua Mãe. Elias rezou sete vezes por chuva e uma pequena nuvem saiu do mar. Ela tinha o formato da sola de um pé. Mas trata-se do pé porque em Ezequiel I, 7 a mesma palavra é usada que em III Reis XVIII, 44, e lá claramente se fala do pé. É o pé também porque a Vulgata é infalível segundo o Concílio de Trento e faz referência a Gênesis III, 15.
Essa nuvem representa Nossa Senhora, medianeira de todas as graças, pois a água desta pequena nuvem salvou toda a terra de Jerusalém. Elias instruiu seus discípulos a rezar pelo advento desta virgem que seria a mãe do Filho de Deus, para se cumprir a profecia que Deus revelou a Adão após o pecado original.
Após a vinda de Cristo, os filhos espirituais desses eremitas se dirigiram a Jerusalém e foram os primeiros a se converter em Pentecostes. Eles se encontraram com a Virgem Santíssima e nunca se esqueceram das doces palavras da Mãe do Salvador. Eles voltaram para o monte e erigiram a primeira capela em honra a Nossa Senhora; Nossa Senhora do Carmo.
Com a perseguição dos muçulmanos no século XII, eles foram obrigados a fugir para a Europa. Foi na madrugada do dia 16 de julho de 1251 que Nossa Senhora apareceu a São Simão Stock, então Prior Geral dos Carmelitas. Ele se encontrava numa situação aflitiva, pois sua Ordem passava por dificuldades muito sérias, sendo desprezada, perseguida e até ameaçada de extinção. Homem de uma fé viva, São Simão não cessava de implorar socorro à Santíssima Virgem, e pedia também um sinal sensível de que seria atendido. Comovida pelas súplicas angustiantes deste seu fervoroso filho, Nossa Senhora lhe trouxe do Céu o santo escapulário e dirigiu-lhe estas palavras:
"Recebe, filho diletíssimo, o escapulário de tua Ordem, sinal de minha confraternidade, privilégio para ti e para todos os Carmelitas. Todos os que morrerem revestidos deste escapulário não padecerão o fogo do inferno. É um sinal de salvação, refúgio nos perigos, aliança de paz e pacto para sempre.”
Setenta anos mais tarde, Nossa Senhora apareceu ao Papa João XXII e lhe fez uma nova promessa, considerada como complemento da primeira:
"Eu, como tua Mãe dos Carmelitas, descerei ao purgatório no primeiro sábado depois de sua morte e os livrarei e os conduzirei ao Monte Santo da vida eterna."
Essa segunda promessa de Nossa Senhora deu origem a uma bula controversa do Papa João XXII, Sacratissimo uti culmine, de 3 de março de 1322, mas que foi confirmada posteriormente por vários Sumos Pontífices, como Alexandre V, Clemente VII, Paulo III, Pio IV, São Pio V, Paulo V, Bento XV e Pio XII, São João da Cruz e Santa Teresa d'Ávila. (Cf. "Rescript. Authent. SC Indulg.", Ratisbon, 1885, p. 475).
Entre os privilégios mencionados após as indulgências, ocorre o seguinte: "O privilégio do Papa João XXII, vulgarmente conhecido como sabatino, que foi aprovado e confirmado por Clemente VII ("Ex clementi", 12 de agosto de 1530), São Pio V ("Superna dispositione", 18 de fevereiro de 1566), Gregório XIII ("Ut laudes", 15 de setembro de 1577) e outros, e também pela Inquisição do Santo Ofício sob Paulo V em 20 de janeiro de 1613, em um decreto com o seguinte efeito:
"É permitido aos Padres Carmelitas pregar que o povo cristão acredite piamente na ajuda que as almas dos irmãos e membros, que partiram desta vida em caridade, 1) usaram durante toda a vida o escapulário, 2) já observaram a castidade, 3) recitaram as pequenas horas [da Virgem Maria] ou, se não sabiam ler, observaram os dias de jejum da Igreja e se abstiveram de carne às quartas e sábados (exceto quando o Natal cai nesses dias).”
O nome "escapulário"
O escapulário tem esse nome porque é uma veste que repousa sobre as escápulas; inicialmente era uma veste de trabalho usada pelos eremitas. Logo, ela virou o símbolo da Ordem do Carmelo e posteriormente de muitas outras ordens religiosas.
O pequeno escapulário que usamos é como uma relíquia deste hábito, uma parte, uma participação no hábito do Carmelo. Esse hábito é poderoso não porque é um amuleto. O escapulário não é um amuleto porque não esperamos nenhuma ajuda da coisa, mas, por meio das bênçãos que recebeu da Igreja, esperamos ajuda de Deus e da Virgem Santíssima, em cuja honra nós os vestimos. Pelo contrário, aqueles que usam amuletos esperam ajuda da própria coisa ou de algum espírito maligno.
Não é um pedaço de lã marrom que vai lhe salvar, mas a forma como você vive, se obedece ou não aos mandamentos, se faz ou não a vontade de Deus. E para segui-los é necessário a graça de Deus, porque sem ela nada podemos fazer.
Analogamente a um carro; algumas pessoas viajam com o tanque na reserva; outros são mais precavidos e colocam um combustível de boa procedência e fazem de tudo para que seu carro esteja nas melhores condições possíveis, para que ele não falhe no caminho. Assim também nós: podemos chegar ao destino celeste se a gasolina for apenas a suficiente, se os pneus não estiverem gastos o suficiente para estourar… mas o perigo é grande. Aquele que usa todos os meios para ter certeza de chegar à pátria bem-aventurada é como as virgens prudentes, que não perdem a única chance que têm de entrar para as núpcias.
Conclusão
Recebido uma vez, não se deve recebê-lo novamente ao trocar de escapulário, por qualquer motivo que seja.
Há várias indulgências plenárias, inclusive na festa de Nossa Senhora do Carmo, de Santa Teresa, Santa Teresinha, São João da Cruz, São Simão Stock, etc., com as condições habituais para receber uma indulgência plenária.
Morrer com o escapulário é um sinal certo de salvação.
Ou a pessoa estará arrependida de seus pecados pela graça de Deus obtida por Nossa Senhora, ou o impenitente morrerá em desespero e se rebelará contra a misericórdia divina oferecida por nossa Mãe do Carmelo.
Quando Jesus viu sua Mãe e perto dela o discípulo amado, disse à sua Mãe: "Ecce filius tuus" (Eis teu filho), e depois disse ao discípulo: "Ecce mater tua" (Eis tua mãe).
E daquela hora em diante, o discípulo a recebeu como o que lhe era próprio.
Lucas María R. Fonseca