Poucos são os santos que, como Santo Antônio, podem rivalizar em popularidade entre o povo católico. Sua festa é celebrada com grande pompa e alegria, e todos, com confiança, a este Santo se dirigem em suas necessidades materiais e espirituais.
Santo Antônio pertence ao século XIII. Seu nome, antes de sua entrada na Ordem Franciscana, era Fernando. Acredita-se que fosse descendente de família nobre, oriunda da França, que, nas grandes empreitadas das Cruzadas, prestou importantes serviços, seja a Afonso VI de Castela contra os mouros, seja participando ativamente da reconquista de Lisboa dos maometanos.
Nascido em Lisboa, em 1195, recebeu sua primeira instrução na escola da catedral. Aos 15 anos, entrou no convento dos cônegos de Santo Agostinho. Contudo, por considerar que a constante visita de parentes ao convento lhe era prejudicial, pediu e obteve transferência para o mosteiro mais austero de Coimbra. Lá permaneceu por dez anos, dedicando-se à oração, ao exercício do sacerdócio e ao estudo da teologia.
No mesmo ano em que tomou o hábito franciscano e adotou o nome de Antônio, viajou com um irmão para a África. Mas o homem propõe, e Deus dispõe: acometido por febre violenta, viu-se obrigado a retornar a Portugal. Contudo, uma grande tempestade em alto-mar desviou o navio, que acabou aportando na Sicília. Era o ano em que uma circular de São Francisco convocava os religiosos para um capítulo geral em Assis.
Um fato extraordinário marcou a transformação na vida de Santo Antônio. Os Franciscanos tinham em Coimbra um pequeno convento, não muito distante do mosteiro dos cônegos regulares. Certo dia, passaram por ali cinco missionários franciscanos com destino ao Marrocos, onde pretendiam pregar a fé cristã aos maometanos. Estes, porém, encontraram a morte do martírio. Seus corpos foram transladados e expostos com grande solenidade na igreja do convento em que se encontrava Antônio. Movido por este exemplo, pediu ao seu prior o hábito de São Francisco, mudou-se para o convento franciscano e ali iniciou uma nova etapa de sua vida.
A ocasião da revelação de seu grande talento foi inesperada: numa reunião em que ninguém sabia de sua eloquência, pediu-se que ele dissesse algumas palavras. Sua alocução deixou a todos cheios de admiração. Desde então, seus superiores o colocaram em evidência, e começou a grandiosa e benéfica missão de Santo Antônio como pregador.
São Francisco, vendo a necessidade de instruir bem os futuros missionários para combater eficazmente as heresias, reconheceu em Antônio o homem ideal para a tarefa. Nomeou-o, então, “lector” de Teologia. Ao mesmo tempo, Santo Antônio atuava como pregador na Romanha, onde a seita dos cátaros crescia assustadoramente. Enviado por São Francisco ao sul da França, uniu-se a São Domingos na luta contra os albigenses.
Já naquele tempo, Deus o distinguia com o dom dos milagres. Sua palavra eloquente e arrebatadora, a santidade de sua vida e o número cada vez mais crescente de milagres fizeram com que, após a morte de São Francisco, Antônio continuasse suas pregações por toda a Itália. De Florença a Udine, de Milão a Veneza, não havia cidade que não tivesse se admirado de sua eloquência e dos estupendos milagres do Santo Missionário.
Em 1230, como Provincial de Milão, participou do capítulo geral da Ordem em Assis, onde se opôs energicamente às ideias inconstitucionais de frei Elias. Enviado a Roma, apresentou ao Papa Gregório IX uma nova redação da regra sobre o voto de pobreza. Nessa ocasião, pregou diante do colégio cardinalício. Demonstrou tanto conhecimento das Sagradas Escrituras, que o Papa o distinguiu com o honroso título de “Arca dos Dois Testamentos”.
A partir de 1230, concentrou sua ação na cidade de Pádua, importante por sua riqueza, poder e universidade. Antônio amava essa cidade pelo espírito religioso de seu povo e pelo infortúnio de estar entregue ao despotismo de Ezzelino III. Suas palavras combatiam a heresia, a corrupção dos costumes e a usura. Reconciliou inimigos, libertou encarcerados e, apesar da saúde debilitada, era incansável no púlpito e no confessionário. As igrejas tornaram-se pequenas para acolher o povo que acorria a ouvir suas pregações.
O êxito de seus trabalhos se explica por três motivos principais: primeiro, por sua grande santidade — era um homem de Deus, e o povo o chamava assim. Segundo, pelo seu zelo e modo particular de pregar. Como São Francisco, servia-se da linguagem popular e usava como base a Sagrada Escritura e os Santos Padres. Não refutava os hereges apenas com argumentos filosóficos ou teológicos, mas desmascarava suas intenções e práticas. Talvez não fosse um orador brilhante, mas suas pregações tinham força pela simplicidade, clareza e naturalidade. E, finalmente, o terceiro motivo era o dom dos milagres que realizava, o qual contribuiu poderosamente para o sucesso de sua missão na vinha do Senhor.
Esta é a marca característica da vida de Santo Antônio. “Se procurais milagres — diz São Boaventura no hino que compôs em sua honra — ide a Antônio.”
Santo Antônio é o taumaturgo de seu século. Quem não ouviu falar da mula que, por ordem do Santo, se prostrou de joelhos diante do Santíssimo Sacramento? Ou dos peixes que emergiram das águas para ouvir suas palavras? Ou das profecias e revelações de segredos íntimos, das curas maravilhosas e da ressurreição de mortos?
Santo Antônio faleceu no ano de 1231. Seu corpo foi sepultado em Pádua, na igreja de Nossa Senhora. Os milagres que ali ocorreram comoveram toda a Itália. Centenas de procissões dirigiram-se ao túmulo do pobre franciscano, e milhares de devotos chegaram descalços para prestar homenagem ao grande amigo de Deus. Sua canonização ocorreu em 1232. Quando, em 1263, seu corpo foi exumado e transferido, descobriu-se que sua língua permanecia incorrupta, enquanto o restante do corpo havia se decomposto. Em perfeito estado de conservação, é exposta até hoje à devoção dos fiéis.
O amável e glorioso Santo Antônio é invocado por seus devotos para encontrar objetos perdidos. Prouvera a Deus que ele encontre em nós um coração cheio de amor e abnegação.
Reflexões
Por mais santamente que tenha vivido Santo Antônio, sua vida foi uma constante preparação para a morte. Muitos cristãos, porém, não se preocupam com a morte e vivem como se jamais lhes houvesse de soar a hora da partida para a eternidade. No entanto, a meditação sobre a morte é das mais úteis, pois, se bem feita, conduz ao completo desapego das coisas deste mundo, que tão facilmente nos desviam do caminho da salvação.
“A sabedoria — diz o Espírito Santo — encontra-se nos túmulos.” Uma visita, corporal ou em espírito, ao cemitério é sempre de grande utilidade. A retórica dos túmulos e dos ossos neles encerrados, embora muda, é eloquentíssima. Se, por ordem do profeta, pudéssemos chamar à vida todos os que ali estão sepultados, o que nos diriam eles?
“Insensatos que fomos! Por que não compreendemos, antes, o que éramos e o que um dia seríamos? Só no mundo pensávamos, só para ele vivíamos, e o mundo já não se lembra de nós. Os bens que deixamos ficaram nas mãos de outros, e para a eternidade nenhuma providência tomamos. Insensatos que fomos!” Tira, pois, as conclusões em teu proveito.
Pe. João Batista Lehmann