Arquivo de abril de 2013

Em 1921, o Papa Bento XV condenou o crucifixo retorcido!

Postado por Admin.Capela em 25/abr/2013 - Sem Comentários

Há uma história conectada com a férula Scorzelli, a da cruz de Albert Servaes (1883-1966). Servaes tinha feito, em 1919, quatorze desenhos em carvão sobre papel branco que representam as estações da Via Crucis impregnados de um forte pathos e uma deformação constante dos corpos em sua expressão de dor extrema. Este é um claro exemplo de “expressionismo” aplicado ao sagrado.

Servaes é um dos artistas da Escola de Laethem, que se caracteriza por uma busca agressiva de um primitivismo “exótico” na escola de Laethem-Saint-Martin, em Flandes. O grupo Laethem, dos quais o expoente mais conhecido é Gustave de Smet, partiu de uma crítica ao Impressionismo, que sentia como demasiado próxima a sensibilidade positivista e incapazes de captar os contrastes e ebulições no caminho da Primeira Guerra Mundial.

O expressionismo do grupo Laethem se converteu assim numa rebelião contra as folhas de estilo, delicadas da língua francesa, através do descobrimento de uma realidade trágica na qual o artista é o intérprete.
A rebelião social e individual do artista, no caso de Laethem também ao mercantilismo típico dos círculos expressionistas em Paris.

A condenação da Via Crucis de Servaes por parte do Santo Ofício, depois da aprovação direta do Papa Bento XV, é um documento chave, já que não é uma simples condenação de um trabalho específico, senão a proibição de um estilo completo ou escola de arte: Albert de Servaes apresentou a mão de Jesus como uma garra…

 

 

Decreto que CONDENA as imagens sagradas de uma ESCOLA PICTÓRICA (publicado em 30 de março de 1921 pelo Santo Ofício).

Os eminentíssimos e reverendíssimos senhores cardeais reunidos com os inquisidores gerais em matéria de fé e moral, em sessão ordinária celebrada na segunda-feira, 23 de fevereiro de 1921, publicamente declararam censuradas as imagens sagradas da nova escola pictória que se exibe no folheto intitulado A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de Cyril Vershaeve (imagens compostas por Albert Servaes. Bruxelas e Paris. Librairie National d’art e d’histoire et G. van Oest e editores, 1920), pela prescrição do cânon 1399, n.º 12, que as proibe pela lei e portanto devem ser retiradas imediatamente de igrejas, oratórios etc. e em todo lugar que forem expostas. Na quinta-feira seguinte, 24 do mesmo mês e ano, Sua Santidade, o Papa Bento XV, na Audiência CONSEJEROS, aprovou a resolução que se lhe havia mostrado, e ordenou-lhes que a partir desta, ficasse estabelecido e confirmado.
Dado em Roma, em São Pedro, escritório de imprensa, 30 de março de 1921.A. Castellana
Notário.


DECRETUM DAMNANTUR SACRAE IMAGINES
CUIUSDAM NOVAE SCHOLAE PICTORICAE

Emi ac Rmi Domini Cardinales in rebus fidei et morum Inquisitores Generales, in ordinario consessu habito feria iv, die 23 februarii 1921, publice declarandum censuerunt: Imagines sacras cuiusdam novae scholae pictoricae, quarum specimen exhibetur in opusculo cui titulus: La Passion de Notre-Seigneur Jésus-Christ par Cyril Verschaeve (ornée de compositions d’Albert Servaes. Bruxelles et Paris. Librairie Natio- nale d’art et d’histoire G. van Oest et Ci e Editeurs, 1920), ad praescriptum canonis 1399, n. 12,prohiberi ipso iure, ideoque statim removendas esse ab Ecclesiis, Oratoriis, etc., in quibus forte expositae inveniantur. Et insequenti feria v, die 24 eiusdem mensis et anni, Sanctissimus D. N. Benedictus divina Providentia Papa XV, in solita audientia R. P. D. Assessori S. Officii impertita, relatam sibi Emorum Patrum resolutionem approbavit, mandans ad quos spectat ut eam servent et servare faciant. Datum Romae, ex aedibus S. Officii, die 30 martii 1921. A. Castellano, Supremae S. C. S. Off. Notarius.

A condenação de toda uma “nova escola de pintura” é singular quando lida à luz das mudanças que se introduziram no enfoque da arte da Igreja coma  Sacrosanctum Concilium, em 1963. O anúncio da ausência de “estilos próprios da Igreja” em S.C. 123, já que pode ser questionável, sublinha, contudo, que a Igreja recusou certos estilos em oposição à fé e a tradição. E o caso do expressionismo belga realista, emblemático neste sentido.

 A férula Scorzelli não é mais do que a repetição daquele expressionismo. E “a vinganza de Servaes proclamou-se ao mundo em 1965”.
Certamente, a férula existiu por muitos anos, de alguma maneira perdeu seu significado original no imaginário coletivo e adotou o aspecto de um símbolo do pontificado de João Paulo II. Contudo, deve-se notar que o Papa Francisco escolheu um anel que pertencia ao arcebispo Pasquale Macchi, ex-secretário do Papa Paulo VI.

É um fato curioso que este anel tenha sido testemunha de uma saída repentina do sarcófago de outro cardeal mumificado: o cardeal Re. Ele, que foi prefeito da Congregação para os Bispos, sem ter sido nem bispo diocesano, sequer pároco, sugeriu ao Papa Francisco a escolha deste anel. Bergoglio e ele o escolheram devido a sua dimensão estética estar estreitamente relacionada com a época paulino. Época de subversão estética dirigida por LercarosFrancias Fallanis. Período iconoclasta por excelência.

Do original, em Fides et Forma.

É crueldade punir os menores? O golpe da menoridade!

Postado por Admin.Capela em 23/abr/2013 - Sem Comentários

“Os jovens, sem o hábito de respeitar a Deus, não poderão suportar disciplina alguma de vida honesta, e acostumados a não negar jamais coisa alguma às suas tendências, facilmente serão induzidos a perturbar os Estados.” Leão XIII

Percebe-se que há uma grande confusão no debate sobre a redução da idade penal. É um grande equívoco querer analisar o problema apenas sob o prisma jurídico ou sociológico. Alguns articulistas se limitam a dizer que a maioridade penal aos 18 anos é uma das garantias jurídicas asseguradas pela Constituição Federeal na forma de cláusula pétrea, de maneira que não se pode reformar a lei. Ou repetem a conhecida arenga do sociologismo esquerdista, dizendo que, se for reduzida a idade penal, só os adolescentes pobres é que serão penalizados.

Na verdade, o debate atual está ignorando que o problema penal da delinquência juvenil não pode ser tratado separadamente do problema da educação dos jovens. A quem compete educar? À família, à Igreja ou ao Estado? A educação compreende o direito e o dever de castigar os jovens? Quais os fins da educação? A reta razão e a boa doutrina ensinam que a educação compete à família e à Igreja. Mas como a família não é uma sociedade perfeita, isto é, como não pode por si mesma alcançar plenamente seus fins, deve ser auxiliada pela Igreja no que concerne ao dever de educar os jovens e à sociedade civil no que tange às outras necessidades.

De maneira que, em princípio, o direito e o dever de punir os menores em seus desvios de conduta pertencem a seus genitores. Evidentemente, quando ocorrem casos de menores infratores que cometem delitos tipificados pelo Código Penal, é legítima e necessária a intervenção do Estado na prevenção e repressão da criminalidade.

Por outro lado, é preciso dizer que a teologia moral lança uma luz sobre o espinhoso problema da delinquência juvenil, chaga asquerosa do moderno Estado laico que se gaba de ser protetor dos direitos do homem e do cidadão. O catecismo ensina às crianças o Decálogo, ensina-lhes os novíssimos, o juizo de Deus remunerador, que premia os bons e castiga os maus por toda a eternidade. Assim forma-lhes a consciência, levando-as a ter responsabilidade moral diante de Deus e dos homens. Ora, a responsabilidade jurídica deve ser um desdobramento da responsabilidade moral, pois, como bem doutrinava Farias Brito, o direito é apenas uma parte da moral. O direito é a moral assegurada coativamente, ensinava o filósofo cearense.

Por conseguinte, se não bastam as exortações e reprimendas domésticas para coibir a conduta criminosa dos jovens, será, sim, legítimo e necessário o emprego da força do Estado para a defesa dos homens de bem em sua integridade física e patrimonial. Não há nisto nenhuma violação do direito da família nem derrogação de uma garantia constitucional assegurada aos jovens, como disse um professor da UFMG.

Na verdade, assistimos hoje aos últimos episódios de uma longa tragédia: o desmantelamento da família como célula da verdadeira sociedade tal como quis o Criador ao criar o homem e a mulher como seres complementares que deveriam, na qualidade de colaboradores na obra da criação, constituir a família como  um santuário de transmissão da vida. A erosão da autoridade paterna, o feminismo que enxotou a mulher para fora do lar e a masculinizou, a exaltação do indivíduo como um soberano, como um semideus, que não tem nenhum vínculo ou dever com a sua própria família, a exaltação do Estado laico, que seria autossuficiente em sua legislação positiva sem nenhum fundamento na lei de Deus, a exaltação da educação moderna sem autoridade e verdade a norteá-la – se é que se pode chamar educação tal corrupção – que deixa livre a criança e não a castiga quando necessário – essas exaltações, esses mitos e outros tantos erros só poderiam desaguar nesse pântano de delinquência que é a sociedade brasileira de hoje governada por uma súcia inominável.

E pior: o Estado laico será incapaz de resolver  problema da delinquência juvenil. A família é insubstituível, é dom de Deus e responsabilidade do homem, ensinava João Paulo II. O homem não destrói inpunemente a família. Será merecidamente castigado por violar o plano de Deus, por querer zombar de Deus ao propor esse simulacro de “família gay”.

Humanamente falando, as coisas só tendem a piorar, salvo se houver uma misericordiosa intervenção divina. Colhemos os frutos amargos de séculos de cultura liberal, de cultura iluminista, de idolatria dos direitos humanos acima da lei de Deus. E infelizmente esses erros penetraram na Igreja. É inútil lamentar as consequências sem atacar as causas.

Por fim, uma respeitosa palavra aos senhores bispos que se pronunciaram contra a redução da idade penal. Não é crueldade penalizar os jovens delinquentes. Crueldade é entregá-los à educação pública do Estado petista, onde lhes inculcam a cartilha da educação sexual da sra. Marta Suplicy entre outras perversidades. Crueldade é dar-lhes o direito de voto nas eleições para que ajudem a manter esse governo no poder e iludi-los com a falácia da democracia.

D. Pedro II não tinha quinze anos completos quando lhe perguntaram se queria assumir o governo. Certamente, o jovem príncipe que nos assegurou o melhor governo que já tivemos estava consciente das suas responsabilidades, dos seus direitos e deveres.

 

Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

Anápolis, 23 de abril de 2013.

Festa de São Jorge, mártir.

Mazelas e sofismas da democracia

Postado por Admin.Capela em 09/abr/2013 - Sem Comentários

As medidas demagógicas e irresponsáveis tomadas pelo governo federal  visando apenas à sua reeleição em 2014 (uma absurda antecipação do processo eleitoral) e o aprofundamento da crise econômica da União Européia têm levado alguns analistas a reconhecer os graves defeitos da democracia moderna.É claro que estamos ainda longe de um reconhecimento da natureza perversa do regime democrático moderno, mas já é um grande passo que se dá ao admitir imperfeições, limitações e vícios inerentes a esse sistema. É um grande passo porque a democracia é a religião do homem moderno, sobretudo após o Vaticano II. De maneira que falar contra a democracia é atentar contra o único dogma que resta em vigor: fora da democracia não há salvação!

Aqui no Brasil já se começam a ouvir vozes clamando contra decisões absolutamente equivocadas do governo, decisões ditadas só por um imediatismo  a fim de garantir a vitória nas urnas no próximo ano. Há diversos homens dignos de respeito alertando para o perigo de o Brasil ter o seu futuro comprometido gravemente porque o governo atual está destruindo os fundamentos da economia do país.

É preciso que, na falta de uma oposição corajosa,  nós católicos, cumprindo o dever moral de zelar pelo bem comum e por amor à Pátria, encetemos uma campanha de esclarecimento da opinião pública, especialmente das pessoas menos instruídas que estão iludidas com a demagogia petista que engana as camadas mais modestas da sociedade com a redução da conta de luz, o adiamento do reajuste da tarifa de ônibus urbano etc. É preciso dizer a essas pessoas que mais tarde a conta será apresentada com encargos muito mais dolorosos. É preciso dizer-lhes que a redução da conta de luz é uma tapeação, pois a diferença do preço será compensada pelo aumento de impostos, além de ameaçar toda a infraestrutura do setor energético. É preciso também esclarecer que esse governo, querendo perpetuar-se no poder a qualquer custo, alicia um setor muito suspeito do empresariado nacional por meio de concessão de vantagens do BNDES que não revertem em prol do crescimento do país.

Li há poucos dias uma entrevista de dois intelectuais ( Nathan Gardels e Nicolas Berggruen) que com muita felicidade explanaram as causas desses males que nos afligem. Gardels disse: “Quando dizemos que a democracia tem dificuldades para se corrigir, há duas razões: o imediatismo político nas eleições (o horizonte de curto prazo dos eleitores) e a plutocracia (o poder do dinheiro, dos interesses particulares, dos lobbies). Democracia supõe que as eleições mudarão um país. Plutocracia, como a define Francis Fukuyama,  diz que há eleições e ponto. Assim as coisa não mudam, pois os poderosos (Wall Street e os lobistas financeiros, por exemplo) continuam protegendo seus interesses.”

Aqui justamente é que bate o ponto. A democracia moderna é um grande sofisma. É, como disse Chesterton, uma plutocracia disfarçada de partidocracia. É um regime estruturado em partidos políticos que,  muitas vezes, não passam de organizações criminosas de lavagem de dinheiro, de negociatas, e estão completamente desvinculados das forças vivas da sociedade. Não são braços dos grupos sociais autênticos. Este gande mal que padecemos não decorre de falhas aleatórias ou pontuais do regime democrático, mas é conseqüência direta das suas premissas. A democracia moderna está fundada no individualismo. Ela exige que sejam solapadas pelo Estado todas as instituições sociais para que o indivíduo, como um semideus, seja livre de todas as amarras sociais e possa ilusoriamente  escolher seus governantes através do sufrágio universal igualitário. Com razão aponta o sr. Berggruen uma grave perversidade da democracia: “Quando você é 1 entre 1 milhão, digamos na Índia, o que a democracia significa se você só tem direito ao voto?” Realmente, o indíviduo, enquanto indivíduo, como disse alguém, é irrepresentável. O indivíduo, desvinculado do seu grupo natural e histórico, não passa de objeto de manobra e manipulação à mercê dos controladores da alta finança, mas não tem voz perante o Estado onipresente. Daí a concentração da riqueza, no mundo moderno, em mãos criminosas e de poucos.

A democracia leva à morte do homem. Do homem consciente da sua dignidade, das suas raízes e dos seus deveres. Transforma-0 em joguete no meio das massas agitadas que em vão falam em direitos humanos, em cidadania e outros mitos dos nossos tempos. A democracia destrói a sociedade verdadeira que se origina a partir da família, para reduzi-la a poeira humana. A democracia leva à morte da civilização porque nela não há amor à tradição nem respeito pelas gerações futuras. Nela tudo se resolve com base no imediatismo, no pragmatismo. Não obedece aos princípios morais e à verdade. Nela prevalece a estúpida lei da maioria e do poder do mais rico que compra tudo, inclusive as eleições por meio de medidas demagógicas como as que se vêem hoje no Brasil.

Na referida entrevista, o sr. Gardels mostra como a democracia está dilapidando os frutos do boom das commodities: “O perigo é que os frutos desse boom  não estão sendo investidos no futuro. As pessoas consomem no presente e os governos não investem em infraestrutura e projetos de longo prazo. Penso que as democracias sempre se focam no presente. É uma democracia da coca diet, em que mídia, mercado e política dizem: “Aproveite, consuma agora, sem calorias, nem custo”. E o sr. Berggruen arremata: “Dar benefícios econômicos para todos, de olho nas próximas eleições, é uma tentação muito alta. (…) A democracia nesses lugares mais atrapalha que ajuda.”

Realmente, é lapidar a análise. Aqui no Brasil já sofremos essa mazela há longo tempo. Carlos Lacerda, um dos poucos políticos lúcidos que tivemos no século passado,  dizia que o Brasil havia queimado divisas (bônus resultantes da segunda guerra) com geladeiras, rádios e bugigangas. Agora, chegou a vez de o PT fazer a farra. Que eu saiba, um dos poucos brasileiros que pensaram realmente em empregar com sabedoria os nossos recursos naturais para o bem de toda a nação e para o futuro do país, foi o filho da princesa Isabel, D. Luís de Orleans e Bragança, em seu belo e hoje esquecido livro Sob o cruzeiro do Sul.

Talvez algum leitor destas mal traçadas linhas se escandalize dizendo que não compete a um padre católico tratar de assuntos dessa natureza. Reconheço que não tenho competência em política econômica. Mas, como observo o poder deletério da democracia moderna que está destruindo toda uma civilização – a democracia moderna é uma ideologia invasiva que pretende estabelecer o seu critério do número e da falsa soberania popular em todos os setores da vida humana –  não posso calar-me, na esperança de poder dar minha modesta contribuição para o esclarecimento e solução do problema.

Finalmente, desejaria dizer que, ao criticar a democracia moderna, é evidente que não defendo como alternativa o estado totalitário nazifascista muito menos a tirania socialista ou a terceira via do bolivarianismo. Admito, conforme a doutrina da Igreja, a legitimidade de todas as formas clássicas de governo, cabendo a cada povo, segundo sua índole e circunstâncias históricas, escolher com prudência a forma de governo que melhor lhe convier. Entretanto, afirmo ser espúria a democracia moderna baseada nos falsos princípios do individualismo, do igualitarismo, do laicismo e da soberania popular. E por causa desses erros considero um dever dos católicos combater a democracia moderna e lutar pelo estabelecimento de um regime político baseado na ordem moral e na constituição orgânica da sociedade civil, um conjunto de famílias e outros grupos naturais. Era assim que se organizava a sociedade nos tempos da cristandade. É nosso dever trabalhar para que ela volte a ser asssim.

Padre João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

Anápolis, 9 de abril de 2013.