A CNBB, o CONIC e o ecumenismo à LGBTQ+

Postado em 13-02-2021

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Tenho acompanhado de perto a grande repercussão da Campanha da Fraternidade de 2021, especialmente os protestos dos chamados católicos “conservadores” contra o texto redigido pelo CONIC para a dita campanha, o qual abraça as reivindicações da comunidade LGBTQ+ e promove a ideologia de gênero, além de outras aberrações da teologia da libertação e dos partidos políticos de esquerda.

Em primeiro lugar, cumpre dizer que é significativo que o lançamento da campanha da fraternidade ecumênica LGBT ocorra justamente nos mesmos dias em que o manso e humilde bispo de Roma declara a excomunhão de todos os católicos que criticam o Vaticano II, o que demonstra o quanto a Igreja pós-conciliar esta desorientada e afastada da Sagrada Tradição. Tudo é aceito, menos a Tradição bimilenar da Igreja. Os sodomitas praticantes podem ser acolhidos, mas os tradicionalistas devem carregar um labéu e ser escorraçados da Igreja.

Como qualquer católico que conhece o ensinamento do catecismo sobre o Decálogo, compartilho da indignação e da revolta dos conservadores que, parece, agora nos dão uma esperança de terem despertado e tomado conhecimento de uma crise que se vem desenrolando há décadas; mas devo dizer que não estou surpreso com o escândalo da Campanha da Fraternidade de 2021. Apenas tento avaliar o mal que este evento ecumênico-LGBTQ+ fará às pessoas mais simples.

Há, porém, uma grave lacuna em todos áudios  e vídeos a que assisti estes últimos dias: nenhum deles manifestou a menor discordância quanto ao fato  de a Igreja Católica, representada pela CNBB, estar matriculada no CONIC, Conselho Nacional de “Igrejas” Cristãs. Ora, isto é inconcebível; é equiparar a Santa Igreja às seitas heréticas e cismáticas. Qualquer católico sabe que Cristo fundou uma só Igreja, una e única, a Igreja Católica, sob a autoridade de São Pedro, primeiro Papa, Vigário de Cristo. A filiação da Igreja Católica ao CONIC contradiz o magistério tradicional dos papas, contradiz os ensinamentos eclesiológicos de Leão XIII na Satis cognitum e de Pio XII na Mystici corporis, bem como a doutrina  de Pio XI na Mortalium animos sobre o ecumenismo.

Para dizer a verdade, o fato de a CNBB ser membro do CONIC é muito mais grave e injurioso à santidade da Igreja e à integridade da fé católica do que a polêmica Campanha da Fraternidade de 2021, porquanto o pecado contra a fé é mais grave do que o pecado contra a castidade. Ademais, via de regra a corrupção dos costumes decorre da corrupção da fé. Não deve causar espanto que, após tantos anos de falso ecumenismo, de abertura ao mundo, de colaboração com os movimentos sociais originários de ambientes alheios à tradição católica, tal como foi proposto por João XXIII, se chegue, como conseqüência natural, ao ponto de ver a CNBB agasalhar gente desse jaez. É o resultado da abertura da Igreja pós-conciliar à cultura contemporânea, a cultura da soberania do indivíduo, da autonomia das realidades temporais.

Infelizmente, como se sabe, desde o Concílio Vaticano II houve uma recusa por parte das autoridades da Igreja de defender e promover o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Desde João XXIII os papas preferiram que a Igreja colaborasse com a democracia nascida da Revolução Francesa na promoção dos direitos humanos, no combate à pobreza e à discriminação. Tudo em nome de uma dignidade humana mal entendida. Francisco Bergoglio leva essa empreitada ao seu paroxismo. Quando Francisco defende uma lei em favor da união civil homossexual só avança nessa direção já trilhada por Bento XVI, que em seu tempo aprovou o uso de preservativo para proteção dos homossexuais. Todos eles, portanto, politicamente corretos e em sintonia com a mentalidade moderna.

Em suma, está cada vez mais claro que, dada a adesão da Igreja à cultura liberal, todos os princípios morais do direito divino e natural não encontrarão mais um resguardo na lei positiva dos Estados. A luta contra a descriminalização do aborto, a luta contra a ideologia de gênero, a defesa da instituição da família são lutas inglórias na democracia liberal. Francisco Bergoglio tem plena consciência dessa realidade e por isso não se incomoda quando sua Argentina aprova  o aborto. Para ele, todas essas questões de costumes pertencem ao foro privado. Quem é católico não aborte, mas o estado democrático não tolha os “direitos reprodutivos” das mulheres. Quem é católico evite divorciar-se, mas se o quiser, que o faça, e que o estado garanta a todos o direito ao divórcio.

Diante desse quadro espantoso, que nos resta a nós católicos fiéis à tradição fazer além de rezar, fazer penitência e trabalhar para o esclarecimento dos inadvertidos? Resta-nos não nos deixar enganar pelo discurso conservador que só aponta as conseqüências amargas mas é incapaz de reconhecer as verdadeiras causas do desastre que vivemos hoje na sociedade civil e eclesial.

Anápolis, 13 de fevereiro de 2021.